22.2.16

FORA DE MIM

Não me deixes aqui sozinho que perco a engrenagem da vida e sento-me à sombra de mim mesmo. Ando a ruminar-me há tanto tempo que já só sou pele e osso. Comeram-me os sonhos para me deixar preso ao que sinto quando me deito em pesadelos. Não me quero sozinho nesta casa abandonada em que me transformei. Houvessem menos espelhos nas minhas próprias paredes e o confronto com o que sou, quando já não sou nada, seria menos carregado da pena que sinto espelhada.
Não me deixes aqui sozinho que me perco no raciocínio. Não estou a falar de perder o fio à meada. Percebe. Perco-me na razão. Na lógica. No racionalizar de tudo o que é mesmo quando não sou. Se te tiras de mim, adoeço.  Não sinto. E o que se pode ser, quando a emoção está moribunda e a única acção é mental?
Não me deixes aqui sozinho. Levas-me contigo a liberdade e não me quero preso a mim mesmo. Quero-me inteiro na sensação. Num passeio pela curva dessa anca quando se deita de lado na cama. Tocar-te a pele para te reconhecer o toque e me saciar na fome tendo-te o sabor. Olhar-te os lábios húmidos que trincas de prazer e o contorcer do corpo quente quando me tem.
Quero-me-te menos imaginada e de uma vez. Num escape de mim mesmo e não mais sozinho.

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