23.2.16

DESCOBRE-NOS

Escreve isso tudo num lençol e cobre-me.
Deitei-me destapada para te receber as palavras e a janela aberta é o código de entrada.
Reconheces?
Vale-me a distância, que a demora na toma do verbo torna a composição pouco presente e a acção, mesmo que perfeita, faz-te chegar no dia seguinte, quando já me levantei.
Tenho-te tão abstrato que me fascina só olhar-te os contornos. Reconhecer no desenho de cada letra, pedaço a pedaço, a matéria que te envolve. Vou retirando, a cada camada de tinta, o que faz de ti próprio e não mais comum.
São tantas as derivações que me sinto irregular até dentro daquela imaginação.
Fizeste-me cansar do colectivo, primitivo, para nos querer num plural, ainda mais primário. O que temos de imperativo está no fogo do que não se diz quando só conjugamos sons. Não sei qual das vozes é mais activa mas que sejamos abundantes na acção. Em tempo certo e quando o modo deixar de ser imperfeito.  
Até lá, fazemos esta brincadeira em gerúndio, só para prolongar o prazer de ser indefinido.

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