25.1.16

QUENTE E FRIO

Deitei-me para sonhar em vão que, entre as horas que ganhei (prefiro sempre achar o ganho que o perdido) a travar o pensamento e as horas a que o despertador tocou, sobrou pouco tempo para a quantidade de sonhos que tenho. Fui assaltada pela imagem acelerada de um acidente, um embate frontal entre um carro e um monte de terra. Não estava a sonhar mas assumo aquela imagem como a catarse que deveria ter feito a dormir.
Sábado tive um acidente, metaforicamente falando, um embate frontal com a realidade. Ela esteve sempre ali, como aquele monte de terra, e um embate frontal com um monte que sempre ali andou, só pode ter sido propositado. É que às vezes queremos mesmo chocar de frente com a verdade só para darmos a certeza a nós mesmos que o caminho não se faria por ali. Era um monte de terra, nem era caminho. Andava disfarçado e continuo a não perceber porquê. Nunca fui boa a entender o porquê de uma mentira mas também não sou feita de terra, sou mais verdade.
Fiquei ali a dissertar comigo e na mesma medida do 8 para o 80, levei-me até ao meu habitat. Os hábitos têm sem dúvida um habitat natural e no meu complexo ecossistema o estado viral é feliz. Há mais seres vivos com a mesma forma de vida e és um deles, menos acelerado talvez e mais contido nas emoções, mas igualmente verdadeiro. Lembrei-me da pergunta que me fizeste, porquê ir ter contigo com aquele discurso baralhado e sem filtro, que tenho consciência que me faltou totalmente ali. Não havia sentido algum em falar-te, nem tenho uma resposta plausível que possa ser mais real que saber que haveria compreensão e abrigo. No pouco tempo em que nos demos com regularidade, sempre falámos a mesma linguagem, e encontrei em ti, alguém capaz de falar quase tanto como eu. Não censuras e sabe-me bem, não julgas nem aconselhas, e na leveza das tuas palavras a realidade ecoa diferente e encontro internamente tranquilidade. Se os encontros não se dão por acaso, entraste na minha vida com toda a razão.

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