22.12.15

VICIAS-ME

Se me continuas a dar atenção assim vicio-me. Não gosto de vícios, já me bastam os cigarros. Se me vício em ti fica tudo estragado. Depois dou por mim em ressaca à mínima falta de atenção.
Não estou a duvidar da tua capacidade de permanência, mas sei de cor a minha intensidade e quero deixar-te de sobreaviso. Raramente se consegue manter à tona quem não nasceu com o mesmo fôlego de vida.
Eu sei que esse olhar me persegue. Ainda não percebi como me podes desenhar tão bem. Entre as palavras que pronúncias e os actos que tomas, vejo uma miúda mexida. Doida na forma desmedida como consome o momento e se bate com o relógio entre o prolongar do minuto e a passagem no imediato para o dia seguinte.
Podia ao menos fazer um hiato menor mas não, se é para ser tem de ser grande. Não se querem diminutivos, nem subtrações, ou valores mínimos. Se é para dar, dá-se em escala. Se guardas o melhor para o fim, o mais provável é já ter perdido o apetite. Vês? É isso! Mais olhos que barriga.

2 comentários:

  1. Os primeiros dois parágrafos do teu texto são a tradução perfeita de uma parte da minha vida neste momento, e foi o teu texto que me ajudou a explicar as razões pelas quais sei que a minha história não vai resultar : "Raramente se consegue manter à tona quem não nasceu com o mesmo fôlego de vida" . Mesmo!! Obrigada :)

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  2. Entre a lógica e a emoção a concordância faz-se no impulso da urgência. Aquele minuto em que já não se distingue um ou outro e o acto é uma imposição. Quase que bruscamente, ecoa em verdade, em todas as nossas moléculas, e sabemos o que fazer para a frente. O fôlego de vida é nosso mesmo que o deixemos submerso, por vezes, em oceanos alheios. E tudo será possível, porque saberemos emergir sempre que nos faltar o ar. Obrigada, eu! :)

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