22.12.15

PARADIGMA

- Tens a certeza?
Que raio de pergunta para começar o discurso. Foi aqui que ficámos ontem, pelo menos na minha cabeça. Até porque fiquei de teorizar sobre o tema e bater-me a favor do paradigma. Bater-me a meu favor será difícil só porque pode parecer que te quero persuadir quando só quero ganhar o prémio. Serás tu ou serei eu servidos de bandeja?
Dizem que construimos padrões relacionais. E dou-me 100% a essa verdade. Por mais que tente contornar o sabor daquilo que já tive, o paladar encontra-te na primeira contra-curva. Sai daí que não quero derrapar. O travão de mão faz-me girar e nunca fui boa em terminar o pião virada para o lado certo. Sou mais errática que essa tua certeza.
De que te serve seguires por ai? É certo que precisas ser cuidado mas esse caminho é tão perigoso como aquele em que não te cuidam. Só por um motivo. Se te faltou a candura, faltar-te-á a falta dela. Qualquer caminho que te dê apenas um sentido, ficará a dever o sentido inverso. Não quero que andes para a frente e para trás, até porque moras longe. Também não te quero a meio caminho, que a indecisão é o pior castigo. Dizia-te para fazeres o que sentes, só porque sei que me sentes mais a mim. Se te disser ao ouvido então, sabemos quem se deita na bandeja.
Não te digo mais que isso. Não te contentes, nem te insurjas. O caminho desenha-se sozinho e foi exactamente por isso que apareci no tempo certo. Assim que te bateu a certeza, servem-te uma incerteza deliciosa.
Façam-se as honras.

1 comentário:

  1. O Paradigma é como uma redoma de vidro que estalou, as fendas ramificam-se como uma raiz de temor e fascínio. Passos em volta, dedos esguios pressionando as teclas de uma máquina de escrever, matraqueando sentimentos vagos e insinuantes, uma voz ressoa dentro de mim como se fosse soprada por um tubo metálico laminado e quente, as ondas de choque propagam-se por mim fazendo colapsar o meu paradigma relacional. Deixo os cacos de vidro espalhados pelo chão do meu quarto, caminho sobre eles como se fossem brasas incandescentes, como um faquir desgrenhado absorto na promessa vaga de um amor convulso, talvez se erga um novo paradigma no horizonte, puxo de um cigarro e imagino-te dentro dele, como o centro de um tornado, movendo-se silenciosamente num turbilhão de sentimentos e desejos…

    ResponderEliminar