30.8.13

José Manuel Rodrigues

Lembro-me de ver o filme "José e Pilar" e de ficar encantada com a facilidade com que as palavras (ditas e não escritas) de José Saramago formavam frases dignas de livros. Um livro não se escreve "em directo", compõe-se no tempo, entre rascunhos, papeis vários, frases soltas, depois conjuntas. Entre teclas de delete ou borrachas gastas. Entre as brancas que nos deixam a olhar para o écran como para o vazio e o jorrar repentino do que se quer dizer transposto finalmente em palavras de sentido.
Lembro-me de pensar que gostava de ter estado, um dia, na conversa com aquele senhor. Beber-lhe as palavras.
Ontem li numa entrevista, a um fotografo português, José Manuel Rodrigues, a seguinte frase: "A parte emocional está nos intervalos, nos espaços vazios, entre notas (…). ".
Voltei a cair no encanto e na vontade de beber palavras e, com ele, também imagens. Voltei no tempo, com este senhor tive o prazer de sentar e ouvir, em directo, todas as palavras que cabem numa tarde. Num momento consagrado em imagem, este senhor faz narrativas de intimidade capazes de nos transpor para todos os nossos intervalos emocionais.
No meu próximo intervalo, faço a mala e rumo ao Alentejo, cheia de sede.

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