3.9.19

EU SOU ASSIM


"O homem que diz “sou” não é, porque quem é mesmo é “não sou”. "

Lembro-me sempre de Vinicius de Morais e o seu Canto de Ossanha quando alguém remata uma conversa com o “eu sou assim”. Com este tipo de argumento não há nada a contrapor. É enfiar a viola no saco e seguir cantando.
Confesso que nunca entendi muito bem que tipo de validação poderá haver nesta expressão e questiono-me algumas vezes se quem a dita gosta do uso do eu para apropriação e fala para si próprio em convicção ou se a agarra em desespero de causa quando o outro argumento que tem na calha já só é o aumento da voz.
Pela quantidade de gente que apregoa o “eu sou assim” pondero tratar-se de uma reza e nunca fui muito religiosa.
Estará realmente alguém disposto a só ser assim?
Seja o assim o que for. É que assim ou assado, fica tudo fechado ali. Fico claustrofóbica só de me imaginar trancada em três palavrinhas apenas. Então e depois? É ficar assim?
Percebo que, quando a crítica é lixada e a carapuça nos serve, o caminho mais fácil seja encerrar a discussão. Atirar para a frente o "eu sou assim" é passar a batata quente para o outro lado.
Sabem que somos humanos não sabem? E que isso nos torna imperfeitos, certo?
Temos falhas e temos qualidades e acima de tudo temos a capacidade de mudar, de evoluir, de adaptar-nos!
O crescimento individual, mesmo que nasça de algo conjunto, é bom. Não é uma anulação, é um desenvolvimento. Achar que qualquer alteração na pessoa que somos é uma diminuição em vez de um acréscimo é mau, estupido até.
A crítica não tem de ser destrutiva, não serve para rebaixar. É antes essencial e enaltece. Admitir as nossas falhas é coragem e liberta. Dá espaço para ser, mais! Quem é que quer dar-se por terminado?
Eu não sou assim, e deve ser rara a vez em que opto pela negativa.

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