23.9.19

DENTRO


Disseram-me hoje que raramente me lamento ou queixo. Também já me disseram que ultrapasso as intempéries com muita rapidez.
Acredito que haja quem duvide da dimensão dos meus sentimentos por demonstrar menos quando sofro.
É verdade que o meu muro das lamentações está pouco escrito. Rabisco por lá alguma coisa quando a dor é profunda e a preciso arrancar à bruta. Também é certo que há em mim uma dificuldade grande em chorar as mágoas em colos que não sinto meus. É mais fácil verem-me deixar cair as lágrimas a meio de um filme qualquer do que a chorar a dureza da vida.
Tenho para mim que a importância das coisas somos nós que a damos e que o queixume dá força ao que queremos deixar para trás. Concentrarmo-nos na lamúria é dar-lhe destaque e o foco que tenho está em ser feliz.
Sinto tudo, não se iludam. Se prestarem atenção veem a minha tristeza diluída nos kilos que fui perdendo. Sempre fui corpo e ele fala tudo o que não verbalizo. Cada um canaliza as emoções da maneira que sabe, mesmo que saiba pouco do que tem dentro.
A forma de expressão não é só boca.
Acho que já vos disse que sou naturalmente feliz e isso advém do espaço que dou à tristeza. Dou-lhe os mínimos para que não se instale mas ainda assim consiga ser lição. Aprende-se tanto com o que corre mal.
Deixem-me repetir. Sinto tudo e sou cheia na emoção. Alimento-me do que não se faz amargo porque a dieta certa é aquela que reduz em calorias os maus momentos, para repor em quantidade todos os bons que soubermos cozinhar.
Bom apetite!

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