29.5.16

ESTIGMA

Agarrei na palavra que me deste enquanto dançava. Já devia ter escrito sobre ela. De certa forma, mesmo não devendo nada, devo-te isso.
Aquela noite entre músicas quero guardá-la. Faltou-nos o copo de vinho na mão. Não te disse na altura porque também sei medir as palavras e o entender que lhes podes dar. Gosto de noites assim. Soubesses tu da importância que têm as notas musicais. Os crescendos. Os silêncios. O cantarolar semi tímido.
Estigma. Palavra difícil essa para contornar com metáforas. Ou talvez não. Sei que preferes quando não maquio as frases e abandono os rodeios. Uso quase sempre artefactos que explicativos servem ambos os sentidos. Há maior defesa ai.
Ainda questiono o porquê dessa palavra. Atribuem-lhe tantas hipóteses de significação que posso correr o risco de não a interpretar correctamente. Onde será que a encaixas?
Das cicatrizes que me fazem falo-te tantas vezes. Entre os exemplo que não gostas que dê estão as marcas do passado. Por muito que se sarem as feridas, as profundas ficam. É por isso que muitas vezes junto a farinha toda no mesmo saco e me resguardo nas frases feitas.
Não sei se te confunde o espaço que se faz entre o que digo e o que faço. Falta-me alguma coerência. Na dúvida rege-te pelo que digo sempre que te disser que não. No imediato dita o impulso e já fiz. Rege-te também pelo que faço sempre que o fizer repetido no tempo. No acto repetido não há contradição.
Podia falar do estigma que é teu mas não quero que entendas o passado como o impedimento do presente. Esse é agora e é meu. Está no desenrolar dos actos a partir do segundo em que te reconheci. Não há julgamento de histórias contadas, de relatos trabalhados, de supostos inquestionáveis. Entre as verdades que me ditas e as mentiras não há discussão. Acredito em ti até quando sei o que me escondes, por opção. Podia ler no estigma patologia mas retiro-lhe o peso para te deixar respirar.

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