16.4.15

FERIDAS



Nada do que foi é novamente. Por muito que caminhemos um mesmo caminho, todo o desenho da estrada é alterado e se na paisagem nada mudou, as moléculas que nos fazem já se transformaram. Nada será igual e isso agrada-me. Se fosse igual teríamos um mesmo resultado porque uma mesma equação não dá diferentes soluções.

Na realidade não há fórmulas matemáticas que nos deem respostas. As calculadoras científicas ainda não subtraem o peso do passado para fazer mais leve o viver do presente. Mesmo que assim o fizessem, não há métrica nos sentidos que seja igual para cada ser e a subtração só nos traria uma memória vazia. Os lapsos na memória não dão espaço ao reconhecimento do que somos e o presente só se vive se formos.

Talvez a única forma de sermos presente seja aceitarmos as mágoas das feridas por sarar. Deixar arder para curar, e apertar para segurar.  Nunca saberemos se sofrer estará novamente no caminho, é um risco que se corre. Pode ser menos arriscado seguir pelo novo do que refazer aquela estrada que já nos derrubou. Será sempre tão mais fácil sabermos que depois daquela curva a estrada é plana e sem buracos. Da estrada conhecida lembramos a contra-mão, os sinais de perca de prioridade e o vermelho que não deixou avançar. 

Mas se reconhecemos, no ponto da chegada, a diferença do destino e o alcance dissemelhante da felicidade. Se a verdade que nos dita o coração tem a felicidade na velha estrada, seguir pela que se faz segura, trará sempre a dúvida do sinal verde, da mão certa e das prioridades invertidas.

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