17.4.15

A RAZÃO DO CORAÇÃO



Provavelmente por defeito de profissão, crio constantemente imagens reveladoras do meu diagrama de emoções. Tenho a necessidade de arranjar metáforas que explicitem a vida, formas físicas do meu interior, na busca da sua compreensão. 

Houve alturas em que fizesse o que fizesse, todas as minhas atitudes me sabiam amargamente. Havia sempre em suspense uma certa incoerência de estado. Nada me fazia sentir de acordo e parecia que pertencia ao lado oposto da minha acção e quando ia até lá mantinha a mesma opinião. Ficava na iminência daquela sensação de não pertencer a lado algum sem perceber o que me causava tanto desacordo. 
Encontrava-me dividida em dois elevadores e estes paravam em patamares diferentes. Foi esta a metáfora que encontrei. No elevador da direita entrou a razão e no da esquerda o coração. Eles, elevadores, andavam sempre para cima e para baixo, um com a razão e outro com o coração, e não se encontravam. Andei muito tempo a fazer subir um elevador para chegar ao outro e acho que nunca desisti de os ter num mesmo andar, mas parei de insistir nesse estado. Tive de aceitar que haverá sempre momentos em que os elevadores são chamados a andares diferentes e tranquilizei-me por saber que também haverá momentos em que se mantém elevados ao estado máximo de coerência e em união. Talvez a tranquilidade esteja em não forçar. Se um dos elevadores precisa de ascender a um andar diferente ao do outro elevador, que ascenda. Não ascender será ir contra a sua natureza. É um elevador, e um elevador não é estanque, a não ser que esteja estragado. Também pode acontecer. Podemos ter avariado um dos elevadores. Ainda assim haverá alturas em que o outro elevador, o que não está estragado, encontrará o que se imobilizou. 

Hoje, acrescento-me outra coisa. É que na realidade (a minha), mesmo que os dois elevadores se encontrem estragados, sempre que houver urgência no reencontro, e o natural for a união, tanto a razão como o coração saberão abrir as portas dos seus elevadores para descobrirem as escadas e mesmo sem se procurarem, acham-se.

2 comentários:

  1. tenho estado a ler o blog há uns dias e a gostar imenso. nem sempre sei o que comentar (embora com vontade), só te posso dizer que tenho lido e gosto imenso :)

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  2. Querida Inês, também me acontece algumas vezes não saber muito bem o que comentar nos blogs vizinhos. Mas diz que o primeiro é que custa mais. ;) Fico feliz por saber que me leem com atenção e que gostam das minhas palavras. Muito obrigada. Espero que continue a ler-me e a gostar do que vou escrevendo. Muito obrigada. :)

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