29.3.16

CURIOSO

Gosto de ti. Acredita. Mas hoje não. Hoje não posso.
Essa tua mania de sabotar as emoções incomoda-me. Sabes que te dou atenção. Ouço quase sempre o que me dizes e até arrisco dizer que te ouço em demasia. Podíamos testar o teu silêncio mais vezes. Ia saber-me tão bem conseguir calar-te. Tenho de descobrir os teus lábios, dizem que um beijo pode quebrar uma frase, e às vezes preferia não ouvir-lhe o fim.
Até podes ter razão.
Curioso.
Sempre que falo és tu que ditas.
Deixa-me um bocadinho à mercê do que sinto. Vai dar uma volta, desliga-te, adormece. Essa tua necessidade de mapeares os caminhos irrita-me. Sabes lá tu se não é na rua sem sentido que todo o meu eu se encontra. Só te indiquei a meta. Se quiseres espera lá por mim. Assim se cortar à esquerda e fizer batota, livras-te das culpas. Vá, deixa-me ir. Sim, eu sei. Tropeço sempre na mesma pedra.
E então?
Curioso.
Todos os passos que dou és tu que comandas.
Faz o que quiseres mas deixa-me entregue à vontade. Se continuares a insistir abro o tinto. Já sabes que ele te ganha ao segundo copo. Não gosto particularmente de te deixar dormente, preferia que aprendesses a relaxar de outra forma. Sim, eu sei, mas não posso escrever isso aqui. Vês como me censuras.
Lembras-te disso agora?
Curioso.
Todos os pecados que cometo és tu que acendes.
Mas hoje não. Hoje não posso.

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