Descrever uma peça não é de todo difícil. Difícil é traçar uma emoção, narrar um sentimento, explicar um encantamento. É aqui que me encontro, entre a realidade e o sonho, o palpável e o inatingível. Exactamente onde deveria estar para poder contar, da melhor forma possível, uma história, que não tem "h" e começa com "e", como todas as estórias que pertencem ao mundo da fantasia. Uma estória esculpida e modelada.
Falar da obra de Maria Rita é dançar no universo do onírico, onde tudo é significado e significante. Na delicadeza dos materiais podemos encontrar metáfora da fragilidade da vida e da efemeridade do sonho. Nos detalhes, escondidos por todo o lado, há referências a imaginários clássicos. No modelar do barro, e do papel, há expressões de si própria aos molhos. Nada é dado ao acaso, nem mesmo o branco com que se vestem as lolitas.
Fascinam-me estas lolitas. Fico entregue à contemplação das suas expressões, mais ingénuas que infantis, que parecem indagar o mundo por onde, hipoteticamente, se perderam. Estarão a sonhar ou também elas se renderam à contemplação do que nos faz ser?
Se as lolitas se perderam acredito que as possamos encontrar na Wonderland de Luis Carroll. É que nesta obra também podemos cair na toca do White Rabbit, cruzar-nos com o Mad Hatter ou travar uma batalha com a Queen of Hearts.
Então, se até a Alice se achou num sonho, resta-me perguntar, da mesmo forma que José Saramago,
"Que seria de nós se não sonhássemos?" .




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